(via Literatortura)
O premiado autor colombiano Gabriel García Marquez está perdendo a memória. A informação vem do A informação vem do jornalista Plinio Apuleyo Mendoza, amigo da adolescência de Gabo, e foi confirmada tanto pela esposa quanto filhos do autor.
“Quando ele fez 85 anos, não telefonei para ele, mas sim para Mercedes [esposa]. Ela preferiu não passar o telefone para ele, porque ele não reconhece as pessoas” disse Plinio. “É lamentável vê-lo assim”. O amigo ainda garantiu que da última vez que se encontraram, o gênio não se lembrava de vários episódios e dizia a mesma coisa várias vezes. “Como anda você? O que tem feito? Quando volta de Paris?”.
Outros amigos também confirmaram esse tipo de conversa. Dizem que o autor possui essas perguntas genéricas para se lembrar das pessoas. Assim, não as constrange dizendo “quem é você?”
Esse fato da memória já havia sido registrado no livro “Gabriel García Márquez – Uma vida”, escrito por Gerald Martin, publicado em 2010 no Brasil. Vejam o trecho:
Gabo não podia mais dar respostas claras e acuradas a perguntas diretas e inesperadas, e era capaz de esquecer o que acabara de dizer cinco minutos antes. Eu não era especialista sobre as diferentes formas e progressões da perda da memória, mas minha impressão foi de que sua condição progredia com bastante constância. Era duro ver um homem que havia feito da memória o foco central de toda a sua existência assediado por tal infortúnio. Gabo era “um recordador profissional”, como sempre se chamou…
Com dicas adequadas podia lembrar-se de mais coisas do passado remoto – embora nem sempre os títulos de suas obras – e travar uma conversa razoavelmente normal e até bem-humorada. Mas sua memória imediata estava fragilizada, e Gabo se mostrava claramente angustiado com isso e sobre a fase em que parecia ter entrado. Depois que conversamos sobre seu trabalho e seus planos por algum tempo, declarou que não tinha certeza se voltaria a escrever. Então ele disse, quase melancólico: “Escrevi bastante, não escrevi? As pessoas não podem ficar frustradas, e não podem esperar mais nada de mim, não é?”
Estávamos sentados em imensas poltronas azuis, numa saleta íntima do hotel, de onde se via o anel rodoviário do sul da Cidade do México.
Lá fora estava o século XXI, voando. Oito pistas de tráfego incessante.
Ele me olhou e disse:
- Sabe, algumas vezes fico deprimido.
- Como? Você, Gabo, depois de tudo que realizou? Não acredito. Por quê?
Ele gesticulou para o mundo além da janela – a grande artéria de tráfego intenso, a intensidade silenciosa de todas aquelas pessoas comuns vivendo a vida num mundo que não era mais seu – depois voltou o olhar para mim e murmurou:
- Porque percebo que tudo isso está chegando ao fim.”
Lamentável... infelizmente meu avô está sofendo do mesmo mal. :(
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