sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

[Resenha] Sol em minha noite, de Faah Bastos

O Romantismo foi uma das fases mais marcantes da literatura nacional, nesta época grandes mudanças ocorriam no mundo a exemplo da Revolução Francesa. No Brasil, o movimento surgiu em meio às mudanças do Rio do Janeiro e, com ele vieram os maiores autores brasileiros como José de Alencar, Machado de Assis, Visconde de Taunay, dentre outros.

Uma das principais características dos românticos é o amor exacerbado, aquele que é puro, que salva não apenas da morte física, mas também da morte existencial, a da alma. Atualmente, poucos autores conseguem traduzir a essência do Romantismo em suas obras, dentre aqueles que tentam, a maior parte deixa a obra tão melosa que, se o leitor tentar espremer o livro; obteria, perfeitamente, alguns litros de mel.  

Sol em minha noite – livro de estreia da autora baiana Faah Bastos – não foge a nenhuma regra romântica. Inspirados nos mais belos romances, a obra conta a história de Helena, uma jovem de 17 anos, que ao perder o pai – em um acidente fatal – vê-se completamente imersa em um mundo onde tudo é uma noite em que nada a agrada, criando seu próprio casulo.

Cansada de ser noite, Helena acha que viver não vale mais a pena e que respirar é algo tão desnecessário quanto a sua própria existência na terra. É com este pensamento que ela atenta contra a sua vida. Porém sua tentativa é frustrada, e ela é salva pelo misterioso e enigmático Rafael.

Por trás deste fundo romântico, a protagonista ainda tem que lutar contra os seus próprios medos, lidar com os ciúmes do seu melhor amigo, Daniel, e resolver a situação pendente com Orfeu – seu amante misterioso e com sua mãe.

Todo texto Romântico é metafórico, e Sol em minha noite não é diferente. A metáfora, que já começa no título, vai da primeira linha até a última, fazendo um passeio delicioso pelos personagens. Sim, eu também pensei que não seria possível, mas as principais personagens da trama são tão metafóricas quanto o texto.

A história se passa em um município chamado Santa Rosa, no sul do Brasil; a primeira vista é um lugar pacato rodeado pela natureza e por que não, um pouco de mistério, remeteu-me muito a Forks, pequena cidade onde a trama Crepúsculo se desenrolava, na verdade, toda a história lembrou-me a série vampiresca, só que com uma narrativa melhor que a de Meyer.

As personagens da obra são adolescentes intensos, a começar pela protagonista, Helena, a personificação da garota romântica, dedicada ao amor que é capaz de salvá-la de uma morte existencial. E esse existencialismo ou a falta dele é tão exagerado que a torna egoísta e patética em diversos momentos; Rafael é o herói romântico, o salvador da vida e da alma, o rapaz perfeito, galante, bonito e misterioso.

Se alguém já teve a oportunidade de ler alguma obra do romantismo, verá que Rafael é exatamente a personificação da perfeição, aquele que é capaz de fazer de tudo por amor, até mesmo abrir mão dele para que o outro seja feliz.

As outras personagens também chamam atenção por suas particularidades destaque para Daniel – o amigo ciumento, porém apaixonado e Emilie – a melhor amiga, típica adolescente, intensa em suas prioridades e amores.

Narrada sob a perspectiva de Helena, a obra é em primeira pessoa. Conhecemos, então, seus medos, suas angústias e tudo que envolve sua mente. A trama, em si, é muito carregada de sentimento: o leitor é capaz de tocar as dores, os conflitos e os pensamentos da garota, por isso, não é algo que flui naturalmente. A obra deve ser lida com cuidado, prestando atenção em qualquer detalhe.

Sol em Minha Noite é complexo e repleto de personagens marcantes. Confesso que em alguns momentos me identifiquei com Helena, principalmente no assunto “a dor de perder alguém”. Doía demais ler cada palavra enquanto eu associava a minha própria dor e confesso que quando esse assunto era tratado no livro, eu compreendia completamente a personagem principal.

A densidade é tão intensa, uma vez que muita informação é usada para descrever simples ações como respirar. Esse estilo narrativo acaba não agradando a todos, porque se torna muito cansativo. Além disso, apesar de alguns erros na revisão, a obra tem uma diagramação muito boa! Quando eu falei que as metáforas começavam nos personagens, não estava exagerando nem nada, é só você dá uma olhada na capa do livro e irá entender o que digo.

Sol em minha noite é definitivamente um romance do século XIX em pleno século XXI, com todos os pesos, medidas e características no inicio do Romantismo brasileiro. 



Sobre a Autora:
Ana CarolineAna Caroline é estudante de Letras Português Francês na Universidade Federal de Sergipe. Adora ler, é apaixonada por séries da Literatura de Fantasia e espera desenvolver um trabalho de pesquisa sobre esse tema na faculdade. Trabalha em uma livraria, onde o contato diário com os livros levou a desejar criar esse blog. Escreve no Loucuras de Caroline.

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