Capa |
Ler A Visita Cruel do Tempo,
de Jennifer Egan, é inferir sobre as relações estabelecidas entre as pessoas.
Como o que eu faço tem efeito na vida de outrem? Mais do que isso, quais são os
impactos das atitudes – minhas e dos outros – no que sou, no que vivo e no mundo
ao meu redor?
Esta reflexão surge desde a leitura
sensorial que fazemos da capa. A ilustração, de Rafael Coutinho, nos remete aos
quadros de Picasso, fazendo com que pensemos nas marcas do tempo: linhas podem
ser vistas como trajetórias que se encontram, se interrompem, se misturam, se
reúnem e se despedem umas das outras. Os vários olhos, rostos, dedos e bocas – todos
enrugados –, contêm marcas, máculas, e indicam que a obra não tem um único
personagem central. O tempo, mencionado no título, é o senhor-mestre que
comanda as várias narrativas que compõe a história múltipla criada por Jennifer
Egan. A inscrição retirada do Los Angeles Times não está ali à
toa, A
Visita Cruel do Tempo é mesmo “O
melhor livro que você terá nas mãos”.
Passando a falar da estrutura da
obra, Egan faz de nós, leitores, espectadores de uma história composta por
várias micro narrativas interligadas (que formam os 13 capítulos). Esta composição me fez pensar: como ela terminará o livro? Este é um mistério que só se desvenda – belissimamente, diga-se de passagem – nas
últimas linhas. A narrativa começa com a história de uma Sasha no início de sua
vida adulta como assistente de Bennie Salazar, um executivo da indústria
musical. A partir disso, a autora nos mostra a sua genialidade, dando a cada
capítulo um ponto de vista diferenciado, com narrador de idade, década e
geração próprias, brincando com as idas e vindas do tempo e com as conexões interpessoais de cada protagonista.
Falando assim, pode parecer confuso,
mas isso é justamente o que nos faz querer devorar cada pormenor da trama: a
narrativa torna-se ela própria um elemento surpresa, pois não sabemos quem será
o próximo a contar a sua surpreendente história. Aqui vale uma nota
interessante: todos os personagens têm uma ligação entre si. Por isso, o livro
nos faz ponderar sobre as relações humanas. A decisão tomada na história de
cada um impacta positiva ou negativamente na vida do outro, ainda que os capítulos sejam autossuficientes. A maneira como tudo
é descrito me leva a pensar que A visita cruel do tempo é um forte candidato a ser adaptado
para o cinema, pois daria um belíssimo filme.
Quem me conhece sabe o quanto sou
criteriosa quando o assunto é best seller.
Normalmente, nunca acho as obras que se tornam populares demais “tudo isso” que
todos falam, todavia, A visita cruel do tempo me surpreendeu positivamente e me fez
pensar que não é à toa que a obra foi uma das vencedoras do prêmio Pulitzer.
Esta é uma leitura que, definitivamente, entrou para a lista das minhas
preferidas e que recomendo a todos.
“É
essa a realidade, não é?
Vinte anos depois, a sua beleza já
foi para o lixo,
especialmente
quando arrancaram fora metade
das suas entranhas.
O tempo é
cruel, não é?
Não é assim que se diz?”
Livro: A Visita Cruel do Tempo
Título original: A visit from the goon squad
Autora: Jennifer Egan
Tradução: Fernanda Abreu
Gênero: Romance americano
Editora: Intrínseca
Sinopse: Bennie Salazar é um executivo da indústria musical. Ex-integrante de uma banda de punk, ele foi o responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits, cujo guitarrista, Bosco, fazia com que Iggy Pop parecesse tranquilo no palco. Jules Jones é um repórter de celebridades preso por atacar uma atriz durante uma entrevista e vê na última — e suicida — turnê de Bosco a oportunidade de reerguer a própria carreira. Jules é irmão de Stephanie, casada com Bennie, que teve como mentor Lou, um produtor musical viciado em cocaína e em garotinhas. Sasha é a assistente cleptomaníaca de Bennie, e seu passado desregrado e seu futuro estruturado parecem tão desconexos quanto as tramas dos muitos personagens que compõem esta história sobre música, sobrevivência e a suscetibilidade humana sob as garras do tempo.
Sinopse: Bennie Salazar é um executivo da indústria musical. Ex-integrante de uma banda de punk, ele foi o responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits, cujo guitarrista, Bosco, fazia com que Iggy Pop parecesse tranquilo no palco. Jules Jones é um repórter de celebridades preso por atacar uma atriz durante uma entrevista e vê na última — e suicida — turnê de Bosco a oportunidade de reerguer a própria carreira. Jules é irmão de Stephanie, casada com Bennie, que teve como mentor Lou, um produtor musical viciado em cocaína e em garotinhas. Sasha é a assistente cleptomaníaca de Bennie, e seu passado desregrado e seu futuro estruturado parecem tão desconexos quanto as tramas dos muitos personagens que compõem esta história sobre música, sobrevivência e a suscetibilidade humana sob as garras do tempo.
Leia o primeiro capítulo da obra, disponibilizado pela editora Intrínseca:
Sobre a Autora:
Fernanda Rodrigues é bacharela em Letras (Português e Inglês) e estudante do curso de Formação de Professores na USJT. Além de ser professora de Língua Inglesa, é louca por assuntos que envolvam a Literatura, as demais artes e o processo de ensino e aprendizagem. Escreve no Algumas Observações, no Escritos Humanos, no Teoria, Prática e Aprendizado e no Barbie Nerd. |
adorei o livro! parabéns pela resenha e por ter lido ele rsrsrsrs
ResponderExcluirOi Lucila!
ExcluirObrigada pelas felicitações! ;)
Espero que você tenha a chance de lê-lo, porque o livro é realmente muito bom!
Um beijo! :*