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Tudo começa com a sagacidade da pequena Sarah. Ela, que sempre gostou de estudar, sonhava em ser advogada e discutia por horas a fio com o seu irmão sobre os assuntos da sociedade. A menina sempre demonstrou uma tendência abolicionista e se tornou uma leitora sagaz, uma vez que seu pai neglicenciava propositalmente as suas idas à biblioteca da família. Ao completar 11 anos, Sarah vê sua vida mudada. Ela é obrigada a fazer parte da vida social da sua cidade natal e, como parte deste processo de crescimento, ganha de presente uma escrava, a miúda Hetty Grinké, chamada gentilmente por todos por Encrenca.
Embora o papel de Encrenca seja o de assumir o lugar de dama de companhia de Sarah, o presente a enfurece. Para ela, os seres humanos devem ser livres. E como libertá-los? Bem, já que ela não pode recusar a Encrenca, ensinou-lhe a ler. É claro que o seu ato trouxe várias consequências difíceis tanto para Sarah, quanto para Encrenca. Enquanto esta foi punida fisicamente, aquela foi proibida de ter contato com o seu maior bem: os livros.
A beleza da obra passa a transpor a narrativa: ela vai ao cerne de cada personagem. Além da força e determinação de Sarah e de Encrenca, deparamo-nos com Charlotte (mãe de Encrenca) e Nina (apelido carinhoso de Angelina Grinké, irmã mais nova de Sarah). Todas elas são fortes, batalhadoras, sonhadoras e, sobretudo, determinadas a encontrarem as asas que lhe darão a devida liberdade.
As irmãs - juntas ou não - quebram os paradigmas sociais ajudando os escravos a passearem, ensinando-os a ler, lutando por seus direitos. É claro que elas foram punidas por isso, chegando a ser expulsas de diversos tipos de comunidades a que pertenciam. Por outro lado, foi justamente que a colocaram em destaque como as primeiras abolicionistas americanas e inspiração para a obra de Kidd.
Encrenca e sua mãe - que são personagens fictícios - não têm menor importância. Elas são responsáveis por nos fazer refletir sobre as atrocidades cometidas contra negros feitos de escravos (seja em qual parte do continente isso tenha acontecido) e também nos fazem pensar se nós não estamos sendo escravos de nossa própria mente.
Historicamente falando, é interessante observar também como homens e mulheres se relacionavam e como a autora expressa isso nos diferentes núcleos, com os diferentes pares (irmãos com irmãs, pais e filhos, maridos e esposas, fiéis e reverendos, escravos e seus donos). Também é notável as diferenças entre as vertentes do protestantismo da época e as suas formas diferenciadas de olhar para a questão da escravidão.
Além de toda a questão abolicionista, ainda há espaço para romance. Trecho da página 111. |
A invenção das Asas é uma obra belíssima que enche a vida dos leitores com sua força e coragem. É uma leitura agradável que merece ser feita com todo o carinho e que nos leva a reflexões profundas sobre a nossa relação com o mundo.
Livro: A invenção das Asas
Título original: The invention of Wings
Autor: Sue Monk Kidd
Tradução: Flávia Yacubian
Páginas: 328
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: Sue Monk Kidd apresenta uma obra-prima de esperança, ousadia e busca pela liberdade.
Inspirado pela figura histórica de Sarah Grimke, o romance começa no 11º aniversário da menina, quando é presenteada com uma escrava: Hetty “Encrenca” Grimke, que tem apenas dez anos. Acompanhamos a jornada das duas ao longo dos 35 anos seguintes. Ambas desejam uma vida própria e juntas questionam as regras da sociedade em que vivem.
Clique aqui para ler o trecho disponibilizado pela editora.
Booktrailer:
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Sobre a Autora:
Fernanda Rodrigues é bacharela em Letras (Português e Inglês) e licenciada no curso de Formação de Professores da USJT. Além de ser professora de Língua Inglesa, é louca por assuntos que envolvam a Literatura, as demais artes e o processo de ensino e aprendizagem. Escreve no Algumas Observações e no Teoria, Prática e Aprendizado. |
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