segunda-feira, 27 de agosto de 2012

[Resenha] E se fosse verdade, de Marc Levy

“O que vou dizer-lhe é difícil de entender e é impossível de admitir, mas se você tiver a bondade de escutar minha história, confiar em mim, então, talvez, você acabe acreditando, e é muito importante, porque você é, sem saber, a única pessoa do mundo com quem possa partilhar este segredo.” 

Uma história de amor doce e repleta de misticismo na medida – quase – certa. 

E se fosse verdade (If Only it were true, Bertrand – 2001), é o primeiro livro do autor francês Marc Levy. A obra conta a história de Lauren Kline, uma jovem médica bem sucedida que, ao sofrer um trágico acidente, entra em coma profundo e de Arthur um arquiteto, sócio de Paul em um escritório de arquitetura, que acabou de sair de um relacionamento turbulento. 

A vida desses dois personagens se cruza quando Arthur vai morar – coincidentemente – no apartamento que pertencia à médica e, para a surpresa dele, em uma noite ao chegar à casa, dá de cara com a “própria” Lauren em seu armário. 

No inicio foi difícil para a moça convencer o homem do que estava acontecendo, mas aos poucos o relacionamento entre Lauren e Arthur começa a se estreitar e uma paixão avassaladora surge. 

Esta é a primeira vez que leio algo de Marc Levy e devo dizer que o enredo de sua obra e sua escrita, lembrou-me muito a da autora Cecelia Ahern em seu livro “Se você me visse agora”. 

Ambos os livros são muito parecidos, uma vez que envolvem uma paixão sobrenatural, seja por um amigo imaginário, seja por um fantasma de uma mulher em coma. Acredito que a única coisa que difere uma obra da outra é que Levy exagera só um pouquinho. No entanto, a narrativa é tão deliciosa quanto e soa até mesmo divertida em alguns trechos. 

 — Você é sempre tão grosseiro?? Por acaso pareço vadia? 
Arthur suspirou. 
— Não, não se parece com uma vadia, mas está escondida no meu armário, quase à meia-noite. 
— Olhe, é você quem está nu e não eu! 
Arthur cobriu-se com uma toalha, amarrando-a na cintura e tentou adotar uma atitude normal. 
— Bem – disse, elevando a voz—, agora, paremos com o jogo. Você sai daqui, vá para sua casa e diga a Paul que não teve graça alguma, nenhuma graça. 

A escrita de Levy é muito simples, carregada de uma clareza incrível. Os diálogos entre as personagens são muito inteligentes, repletos de filosofia e engraçados. É divertido se ver como Arthur. É divertido vê-lo questionando e falando sozinho no meio do público sem dar a mínima para o que estão comentando. 

Aliás, ele é um personagem apaixonante! E quando digo apaixonante, quero dizê-lo com todas as letras. Não tem como o leitor não se apegar a ele. O que ele faz pela Lauren é simplesmente lindo e ponto. 

Passou um braço por seus ombros e a estreitou contra si, como para consolá-la. Ao virar-se, encontrou-se cara a cara com a enfermeira, que o olhava inquieta. 
— Você teve uma cãibra? 
— Não. Por quê? 
— Seu braço está levantado e a mão fechada. Não é uma cãibra? 
Arthur soltou Lauren, imediatamente, e deixou cair o braço ao longo do corpo. 
 — Você não a vê? — perguntou à enfermeira. 
 — Não vejo quem?? 
 — Não, a ninguém! 

Lauren por sua vez, além de ser a personagem mais dramática da trama é também o alívio cômico da história. O autor a descreve com muito cuidado, fazendo dela a típica mulher atual: independente financeiramente, linda, bem-sucedida em sua carreira e que, no fundo, sente falta de ter alguém ou algo a quem se apegar. Talvez isso explique o fato de sua conexão com Arthur, o que diferentemente do filme, não é retratado no livro. 

O elo deles dois, na verdade, se torna um enigma. E por vezes o leitor é capaz de se perguntar o motivo de só ele vê-la. Fato que – e esse é um dos pontos baixos do livro – o autor não faz questão nenhuma de explicar. Fica uma interrogação que pode – não sei se da maneira correta – ser respondida na adaptação cinematográfica. 

Outro ponto chato – daí vem o exagero a que me referi no início da resenha o – é que Marc Levy viajou demais em uma das partes – é algo tão ilusório que é impossível não ficar com cara de "gente-isso-tá-mesmo-acontecendo”? Por exemplo: (sim, vai ter que sair um spoiler para vocês entenderem) sexo com fantasma? Simplesmente não engoli isso! Marc Levy, seu livro é lindo, a história é muito bela, sua narrativa é ótima, mas você forçou muito a amizade aqui. 

Mas até nisso ele soube levar bem a escrita o que tornou um momento surreal em algo doce e inesperado, sendo capaz de me arrancar alguns suspiros (acreditem se quiser). Eu já tinha visto o filme e devo admitir que o livro é muito mais profundo que a película. A adaptação é muito supérflua. Coisas interessantes sobre Arthur, por exemplo, foram suprimidas. Não que isso tire a beleza do filme, não tira! Mas, é que o livro é tão profundo que seria uma violação assistir ao filme sem antes conhecer a obra. 

E se fosse verdade, não é apenas uma história de amor, é uma reflexão sobre a brevidade da vida e, principalmente, sobre o valor que damos a tudo que temos agora. 

"Todas as manhãs, ao acordar, recebemos um crédito de 86.400 segundos de vida para aquele dia, e quando vamos dormir à noite não há transporte dessa quantia. O que não foi vivido naquele dia está perdido, o ontem acabou de passar. Todas as manhãs essa magia recomeça, ganhamos um novo crédito de 86.400 segundos de vida e essa regra do jogo é incontornável: o banco pode fechar nossa conta a qualquer momento, sem nenhum aviso prévio; a qualquer momento a vida pode ser interrompida. E o que fazemos com nossos 86.400 segundos cotidianos?"

Sobre a Autora:
Ana CarolineAna Caroline é estudante de Letras Português Francês na Universidade Federal de Sergipe. Adora ler, é apaixonada por séries da Literatura de Fantasia e espera desenvolver um trabalho de pesquisa sobre esse tema na faculdade. Trabalha em uma livraria, onde o contato diário com os livros levou a desejar criar esse blog. Escreve no Loucuras de Caroline.

4 comentários:

  1. Descobri a pouco tempo que tinha esse livro, gosto demais do filme e morro de vontade de ler o livro *-*

    Beijo;*
    Naty.

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    Respostas
    1. Oi Naty!

      Eu também descobri recentemente que tinha o livro, a leitura é bem gostosa e a história é muito mais profunda do que se imagina.

      Beijo :*

      Ana Caroline
      Nosso Clube do Livro

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  2. adorei a resenha!!! muito linda!!! eu adoro o filme e agora estou curiosa pelo livro!

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    Respostas
    1. Olá Lucila,

      Obrigada pelo carinho, que bom que você gostou da resenha. Leia o livro, ele é lindo! Simplesmente fantástico.

      Beijo

      Ana Caroline
      Nosso Clube do Livro

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