quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ser escritor: os desafios de ser reconhecido



Em 25 de julho é comemorado o dia nacional do escritor. Uma data criada na década de 60, quando dois autores brasileiros (Jorge Amado e João Peregrino), presidente e vice, respectivamente, da União Brasileira de Escritores, realizaram o 1º festival do Escritor Brasileiro. Por isso, entrevistamos alguns jovens autores para saber quais são as pedras no meio do caminho encontradas por estes profissionais. 

Mas, o que os novos autores brasileiros têm a comemorar pela data? 

Sabe-se que se tornar um escritor é uma tarefa árdua. Além de dispor de tempo para trabalhar na sua própria obra, o autor tem que ter paciência. Sim, muita paciência. Depois da criação vem o ardiloso processo de entrar em contato com editoras e correr o risco de ser negado inúmeras vezes. E quando, o que fazer então? 

Alguns deles produzem de forma independente. Esta empreitada é mais difícil ainda, uma vez que o escritor é responsável pela própria divulgação do seu livro. Esta pode ser, sem dúvida alguma, uma das maiores dificuldades que eles enfrentam. “Acredito que a maior dificuldade para um escritor iniciante está na divulgação do seu trabalho. Como ainda não tem um espaço na mídia para fazer isso; terá que, muitas vezes sozinho, ultrapassar fronteiras, abrir novos caminhos, para tornar seu livro conhecido”, foi o que nos disse Roberta Splinder, autora de livro Os Contos de Meigan. 

Há também a questão do preconceito. O brasileiro está muito acostumado a criticar tudo que é novo, tudo que é produzido aqui, principalmente quando é por alguém desconhecido. É complicado entender o motivo de ficarem tão presos quando o assunto é a nova literatura nacional, já que estamos acostumados a tudo que vem de fora e a todos os autores mais antigos.

Para alguns leitores é muito fácil explicar: é mais simples ler algo que acontece em outras terras, outros países ou planetas, do que conviver com a dura realidade do Brasil; para outros a coisa é um pouco mais ampla. A leitora Raila Spindola acredita que “Tem coisas que simplesmente não cabem com Brasil, como alguns épicos. Épicos brasileiros precisam ser sobre índios ou escravatura, porque é isso que é aqui. Eu não gosto de livros que falam sobre ditadura militar e guerra do Paraguai, e parece que alguns livros brasileiros só conseguem abrasileirar tudo. E os que não são assim, as editoras só não se importam”.

Esse foi um dos problemas enfrentado pela autora Renata Ventura, que escreveu o livro A Arma Escarlate, cujo enredo foi inspirado na série Harry Potter, “a maior dificuldade para os autores brasileiros é o preconceito que existe contra literatura nacional e, principalmente, contra literatura que se passa no Brasil!”. 

O preconceito que parte dos leitores tem com a produção feita aqui com certeza não é apenas um problema da Renata, mas de muitos outros que começaram neste competitivo mercado editorial. Esta visão é compartilhada pelo autor Sergio Carmach (Para sempre Ana) que diz que o “problema é mostrar para os leitores que seu trabalho é atraente e possui um diferencial. E essa tarefa é bastante árdua para o escritor independente, mesmo que ele tenha escrito a mais bela das histórias”. 

Ainda que o panorama acima descrito seja cruel, a nova literatura brasileira luta contra este cenário, tornando-se cada vez mais presente, ganhando espaço seja na atenção dos leitores, seja no catálogo das editoras. 

Algumas grandes editoras criaram selos para lançamento de novos escritores e desenvolvem um trabalho maravilhoso e de extrema importância para essa demanda. Sergio Carmach ainda acrescenta que “O novo autor tem muita facilidade hoje em dia para publicar suas histórias, pois há um grande número de editoras dedicadas a ele.” Com relação dedicação a esses autores novos pode-se citar como exemplo o selo Fantasy - da Casa da Palavra -, Novos Talentos – da Novo Século -, editoras Draco e Subtítulo, dentre muitas outras que estão dando o devido valor a produção literária brasileira.

A nova produção literária brasileira está a todo vapor e a cada dia aparecem autores muito bons em busca de um espaço. Como a própria Lycia Barros (Uma herança de amor e A garota do outro lado da rua) deixou claro para nós quando revelou qual a grande dificuldade para ela: “A grande dificuldade dos autores - e não incluo só os brasileiros - é transformar a sua bela ideia em um livro apto a competir no mercado editorial. Ou seja, organizar as ideias para elaborar um livro que tenha todos os recheios para atrair determinado público. Não adianta conseguir uma editora se o recheio do seu livro não está bom, pois isso só vai naufragar sua carreira antes mesmo de começar. Por isso me conselho é sempre o mesmo: planeje, organize-se e estude! Essa não é uma carreira para amadores”

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Agradecimentos especiais aos autores que nos ajudaram na construção deste artigo: Sergio Carmach, Lycia Barros, Renata Ventura, Roberta Splinder, Leonardo Schabbach (que não conseguiu enviar a resposta, mas só tem tentar ajudar já me deixou feliz) e Raila Spindola.

Um comentário:

  1. Comecei a ler por que obviamente o assunto me interessa e me toca, pessoalmente...
    Sou leitora e escritora.
    Em minha opinião o maior problema no Brasil está na nossa falta de cultura de leitura. Esse é o principal dos problemas e não importa o quanto um livro seja bom. Os mais bem sucedidos escritores brasileiros ou fizeram seu sucesso fora daqui ou tem séculos e um cânone que os sustente.
    Mas o que me chamou mais atenção e me fez começar a escrever aqui foi a ultima frase "Essa não é uma carreira para amadores".
    Pois até agora eu jurava que era exatamente ao contrário! E tem como ser diferente disso?
    Honestamente acho impossível que um escritor seja bem sucedido se não for amador. E eu estou usando o sentido lato dessa palavra: aquele que faz por amor.
    Eu sou um pouco romântica no que se refere ao fazer literário - talvez muito. Mas me custa acreditar que é realmente possível escrever pensando no "mercado editorial". Seria algo como misturar temperos aleatoriamente apenas para atender o gosto da maioria - e eu não quero nem pensar em que prato poderia sair disso. Não dá!
    Instrumentos, condições e conhecimento ajudam, mas não são nada se não houver aquele 1% tão famoso. Inspiração.
    Há isso cheira ao bom e velho gênio romântico, divinamente inspirado. É o próprio.
    Acho que eu seria infeliz se escrevesse para atender um público, uma demanda e não para produzir reações - é o que eu tento pelo menos.
    Antes de reconhecimento eu quero lágrimas, raiva, riso e dor... Palavras que produzam isso! Eu quero catarse!
    Reconhecimento é excelente e eu o aspiro também, um dia, quem sabe. Mas nunca antes de saber que eu consegui tocar uma alma que seja no caminho.
    Mas isso é apenas a opinião de uma amadora!

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