domingo, 22 de janeiro de 2012

Delírios de uma mente viajante

Era uma vez um homem que vivia trancado dentro de um quarto escuro, apenas com um colchão duro, alguns lençóis sujos e um penico, ele se chamava Caio... Não! Esse não é um conto de fadas apesar de começar com “Era uma vez”... Essa na verdade é a história de Caio que um dia foi taxado de louco só porque sonhava um pouco.

Quando tinha 17 anos, Caio contou algo sobre ET's e da visita que tinha feito a um planeta distante, mas ninguém acreditou nele. Até que um dia uma forte luz verde entrou no seu quarto, fazendo com que toda a casa ficasse iluminada. Seus pais, que na hora assistiam um noticiário na TV que falava sobre guerras, terremotos, bolsas em baixa, crise econômicas, ouviram um barulho estranho e apenas gritaram de onde estavam: - Caio, você vai incomodar os vizinhos! Mas Caio não ouviu e a luz tampouco desapareceu. 

Aquilo estava começando a ficar sério demais! A luz não apagava e Caio nada falava, então seus pais subiram até o seu quarto para saber o que estava acontecendo. Mas Caio não estava mais lá... A cama estava desarrumada como sempre ficara, o quarto uma bagunça só, mesmo assim eles procuraram-no por todas as partes, dentro do armário, embaixo da cama, no banheiro, olharam pela janela, mas nada de Caio. E não era apenas Caio que tinha sumido a luz verde também.

O desespero tomou conta dos pais do rapaz, a mãe, coitada, quase cai da escada enquanto descia as escadas gritando desesperada: “Cadê meu filho! Cadê meu filho!” Ela era uma velha desconjuntada, tinha cabelo ruivo que vivia sempre preso num coque, vestia roupas largas, era gorda e com nariz empinado. O velho pai do garoto nem fala, por pouco não teve um infarto. 

O Sr. Pai e a Sra. Mãe de Caio saíram correndo pela vizinhança atrás do pobre rapaz, estava frio lá fora e se ele tivesse sido enterrado pela neve? Mais não havia neve lá fora e se um louco tivesse sequestrado o rapaz?! Eles eram tão podres que nem sabiam como pagariam resgate! Toda a vizinhança foi alertada sobre o sumiço do garoto, mas ninguém sabia explicar como ele tinha sumido.

Não muito distante dali, apenas há alguns anos luz de diferença, Caio estava jogando baralho com seus novos amigos que não eram verdes como diziam a maioria dos filmes e livros, nem tinham cabeça achatada e nem dedos pregados. Ah! Sim! Claro, eles eram de fato estranhos, mas muito legais e ao contrário do que todos poderiam imaginar eles trataram Caio muito bem e faziam perguntas o tempo todo sobre coisas da vida de Caio. Como eram os humanos? O que comiam? Quando comiam? Essas coisas. 

Caio junto com seus amigos conheceu galáxias, mundos, “seres” diferentes, bebeu uma água pastosa que tinha gosto de suco de laranja sem açúcar, ensinou-os a jogar futebol, basquete, vôlei e outros esportes, até os ensinou a escrever – mesmo que eles tivessem uma péssima coordenação motora – aprendeu a exercitar a paciência e o respeito. Com o tempo passou a gostar daquele “povo” e não queria mais sair de lá! Pelo menos ninguém o tratava como um maluco delirante, nem como um garoto imaturo, nem tampouco como um louco! Lá aqueles seres o entendiam como ninguém fizera! Caio não tinha noção de tempo, então provavelmente já tinha duas semanas que estava com eles. E ó como era feliz... Até que um dia, o grande mestre daqueles seres disse que Caio teria que escolher entre lá e aqui... 

Escolhas era uma coisa que Caio não fazia, na verdade nunca tinha feito, faziam por ele... No café da manhã “Não você não pode comer bacon, você vai comer torradas”, na loja de roupas “Você não pode comprar azul, você vai levar a branca”, na loja de sapatos “Tênis não combina com você, vamos levar o sapato”, na escola “Você não é bem vindo aqui” e até mesmo em casa... “Está de castigo e não poderá sair até para de agir como louco”. O pior parte de tudo isso é que ele simplesmente não podia discordar, se não, era bronca na certa. 

Mas ele sentia falta da mãe, do pai e do quarto bagunçado. Não queria voltar, apesar da saudades, mas, queria apenas ter a oportunidade de dizer adeus. Então, naquele dia os seus amigos lhe levaram de volta para casa... 

Ouviu-se um grande barulho na casa do Sr. Pai e da Sra. Mãe de Caio e vinha do andar de cima, justamente do quarto de Caio! A sra. Mãe de Caio subiu as escadas ofegantes, com um misto de medo e apreensão... “Ah, se for mesmo ele!” as pessoas que estavam na sala - os vizinhos da direita, os vizinhos da esquerda, os vizinhos da frente, o policial gordo e baixinho e os vizinhos dos fundos – deu para perceber que muita gente estava lá naquela noite, como eu ia dizendo, todas essas pessoas subiram até o quarto do garoto para ver do que se tratava o barulho, que foi provocando pela quebra da cama de Caio quando ele caiu em cima dela. 

Quando a mãe de Caio abriu a porta e o viu deitado na cama quebrada e todo desengonçado, sorrindo para ela, o nariz da velha inflou e por um momento parecia que ela iria cuspir fogo, mas Caio não notou isso, então se levantou e perguntou: “Sentiram saudades?” e sorriu. 

“Saudades?” ralhou o Sr. Pai dele, “Você desaparece durantes horas e vem perguntar se estávamos com saudades??” 

“Horas?” indagou o rapaz “Eu passei dias fora” 

Vocês precisavam ver o tamanho dos olhos dele quando disse isso. “Ah! Sim, agora ele enlouqueceu de vez Arnaldo” berrou a velha mãe do rapaz. Não demorou muito e Caio se viu sendo empurrado para dentro de uma velha ambulância amarrado em uma camisa de força, sem entender nada do que acontecia começou a gritar que não era louco e que tinha visto seres... 

“Não me venha falar disso novamente” choramingou a sra. Mãe dele. Então foi assim que Caio foi parar em um lugar para loucos, onde se trancou dentro do quarto negro e não saiu mais. 

Há quem diga que as vezes fortes luzes verdes aparecem no seu quarto e ouve-se gargalhadas, mas isso não vem ao caso, afinal de contas quem acreditaria em um simples conto de um rapaz maluco que disse que viu “ET's” e que eles são seus melhores amigos? 

Mas como eu dizia no começo do conto... Era uma vez um homem que vivia trancado dentro de um quarto escuro, apenas com um colchão duro, alguns lençóis sujos e um penico, ele se chamava Caio... 

Ana Caroline
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Esse conto foi originalmente postado aqui e foi escrito pela autora do blog Ana Caroline

5 comentários:

  1. Eu sempre gostei do que você escreve e estava com saudades!

    Parabéns!!! Brilhante!!! Adorei!!!!

    Beijos,

    Pipoca.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Lis,

      Obrigada pelo seu carinho, flor!!! Obrigada por ter gostado, na verdade esse conto é meu xodózinho x)

      Beijos

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  2. Parabéns Carol...como sempre você arrasando nos seus textos né???
    Lembro-me muito bem do "Loucuras da Caroline"...eita blog gostoso de ler hein....
    Beijooos Ca!!!

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  3. Parabéns Carol...mais uma vez arrasando nos textos né???
    Lembro-me muito bem do "Loucuras da Caroline"...blog gostoso de ler hein...assim como o Nosso clube do livro.

    Beiiijos!!!

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