Em
que momento da vida entendemos os sacrifícios que nossas mães fizeram? E o que
acontece se é tarde demais para agradecer?
Já pelo título, nota-se
a responsabilidade de Kyung-Sook em manter o nível de emoção da obra elevado (pelo
menos, esse é o primeiro impacto que o livro causa). Confesso que fiquei muito
atraída pelo nome; pois, para mim, livros que envolvem os plots mães e família carregam por si só uma
carga emocional muito grande, capaz de deixar o leitor pensativo por vários
dias. Conforme Abraham Verghese, autor de Cutting for Stone, disse na
contracapa desta obra, Por favor, cuide da mamãe é “um romance maravilhoso que permaneceu em
minha mente muito tempo depois de eu ter terminado de ler suas últimas e
perturbadoras páginas”.
Park So-nyo é uma
mulher de 69 anos, mãe, esposa, avó e filha, que levou uma vida cheia de
sacrifícios. Sobreviveu a guerras, pobreza e fome e, há alguns anos sofreu um
derrame cerebral que, além que lhe trazer fortes dores de cabeça, a deixa
confusa e vulnerável. Um dia, ao sair do interior da Coréia do Sul, em viagem a
Seul, para visitar os filhos já crescidos, perde-se do marido e nunca mais é
vista.
A partir daí começa uma
procura sem fim e sem esperança pela mulher que se soltou do marido na confusão
da estação do metrô. Enquanto procuram, os filhos e o marido relembram alguns
fatos do passado de Park e repassam mentalmente tudo que não disseram a ela. É neste ponto que a narrativa começa a ser uma
das mais emocionantes que já li.
A obra é composta por
cinco capítulos, contando o epílogo. Cada um deles mostra o ponto de vista e
lembranças de algum familiar de Park, em sua busca desesperada por ela pelas
ruas de Seul. Os capítulos são narrados na segunda pessoa, mesclando passado e
presente de uma forma harmoniosa, permitindo que o leitor sinta-se parte do
livro, como se caminhasse por cada rua ao lado dos filhos e do marido.
O desenvolvimento dos
personagens é brilhante e há uma exploração emocional contínua em cada um deles.
Ver o modo como cada um dos filhos e do seu marido reage a tudo que está
acontecendo é algo grandioso: as emoções são tão bem narradas que o leitor
sente o sofrimento deles. Você é capaz de sentir a agonia, o desespero, a dor,
as lembranças e a esperança de que irão encontrá-la um dia.
Por diversas vezes, a
autora se preocupa em questionar os filhos sobre algumas atitudes que eles
tomaram no passado e que poderiam interferir no presente. Alguns destes trechos
levam o leitor parar se questionar sobre o mesmo assunto, refletindo a respeito
de suas atitudes.
A estrutura do texto é
fantástica. A escritora nos conduz ao passado com surpreendentes revelações
sobre Park So-nyo, revelações estas, que nos traz uma reflexão sobre mães e
seus sacrifícios, que nos traz de volta ao presente mostrando claramente as
emoções conflitantes dos familiares da mulher e, por incrível que pareça, isso
não é feito de forma a tornar a obra maçante ou coisa qualquer coisa parecida.
Ao contrário, são
justamente esta jogada entre passado e futuro e esta mistura de emoções
conflitantes, que deixam a história mais interessante: ora somos a personagem
principal; ora, apenas meros observadores.
A escrita é leve,
fácil, porém carregada de uma emoção sem tamanho. Muitas vezes, pensei que a narrativa
se confundia com a vida da autora, como se ela fosse um dos filhos e se tivesse
passado por aquilo. E impossível não ler e não pensar: “Céus, isso deve ter
acontecido com ela”.
É importante ressaltar
o valor familiar que Shin deixa no livro, o valor dos sacrifícios feitos por
tantas Park So-nyos que existem no mundo – isso com certeza foi um dos pontos
que mais me chamou atenção na obra.
Por favor, cuide da
mamãe levou-me a pensamentos muito profundos, que
sinceramente, não quero compartilhá-los aqui. Tenho plena certeza que todas as
pessoas que lerem esse livro terão a mesma sensação que eu.
“Será
que estou dando o devido valor a minha mãe?”. Talvez esse, seja o
grande questionamento deste escrito e ele é exposto da forma mais comovente
possível. Todos os elementos, desde capa ao formato do texto – narrativa,
fonte, diagramação e etc. –, fazem com que o leitor se envolva por completo na
história.
Este um livro terno,
repleto de amor e de verdades. Por isso, afirmo com veemência que é impossível não lê-lo sem se conectar com
sentimentos tão profundos de amor e respeito.
“Quase
nada neste mundo acontece de forma inesperada quando refletimos com atenção.
Mesmo o que alguém poderia considerar incomum, se pensarmos bem, é apenas que
tinha probabilidade de acontecer. Deparar-se repetidas vezes com acontecimentos
incomuns significa pouca reflexão sobre eles.”
Título em inglês:
Please look after mon
Páginas: 236
Autora: Kyung-Sook Shin
Publicado originalmente
em 2008, na Coréia do Sul;
Tradução: Flávia Rössler, 2011.
Editora: Intrínseca
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*A resenha foi escrita pela Ana Caroline. Como ela está com alguns problemas, pediu que eu postasse em seu lugar.
Sobre a Autora:
Ana Caroline é estudante de Letras Português Francês na Universidade Federal de Sergipe. Adora ler, é apaixonada por séries da Literatura de Fantasia e espera desenvolver um trabalho de pesquisa sobre esse tema na faculdade. Trabalha em uma livraria, onde o contato diário com os livros levou a desejar criar esse blog. Escreve no Loucuras de Caroline. |
OMG! Que resenha ESTUPENDA!!! Se estava em dúvidas de pedir esse livro pra Intrinseca, todas sumiram agora! :)
ResponderExcluirAdoro livros que nos fazem refletir e, principalmente, sentir!
Parabéns!
Bjs
Gleice
www.murmuriospessoais.com
Que bom que vc gostou da resenha! :D
ExcluirTambém fiquei com vontade de ler! :)
Um beijo,
Fê
Parece ser uma história maravilhosa!
ResponderExcluirestou louca pra ler!
Parabéns pela resenha! :D