sábado, 5 de maio de 2012

Páginas inéditas d'O Pequeno Príncipe serão leiloadas.

(via O Globo e Livros só mudam pessoas)
Páginas inéditas do clássico “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, irão a leilão no dia 16 de maio.

Os manuscritos foram descobertos dentro de uma coleção de originais do escritor e desenhista que foi repassada para a casa de leilões francesa Artcurial por um colecionador particular no início do ano. 

De acordo com o jornal britânico “The Guardian”, ao analisarem o acervo, especialistas ficaram estupefatos ao encontrarem duas páginas de “O Pequeno Príncipe” que nunca foram publicadas. Uma delas contém material totalmente inédito que poderia dar uma perspectiva mais política à história do príncipe de um pequeno planeta que viaja pelo universo até chegar à Terra.

 “A caligrafia dele era terrível, mas conseguimos interpretá-la e concluímos que duas das páginas, entre todos os manuscritos, era um material de “O Pequeno Príncipe” que nunca havia sido publicado”, disse ao “Guardian” Benoît Puttemans, do departamento de livros da Artcurial. “Foi uma grande surpresa”. “O Pequeno Príncipe” vendeu mais de 80 milhões de exemplares em todo o mundo. Saint-Exupéry, que também era piloto, desapareceu durante uma missão em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. 

Uma das páginas inéditas traz uma primeira versão do momento em que o herói chega na Terra, o sétimo planeta que visita. Na versão não publicada, Saint-Exupéry escreveu: “Se juntássemos todos os habitantes desse planeta, todos juntos uns dos outros, apertados, como eles fazem para algumas reuniões, os brancos, os amarelos, os negros, as crianças, os velhos e os homens, sem esquecer de ninguém, toda a humanidade caberia em Long Island”

O trecho pode ser comparado ao texto final, publicado no livro: “Se os dois bilhões de habitantes que povoam sua superfície ficassem de pé e amontoados juntos de alguma forma, como fazem em algumas reuniões públicas, eles poderiam facilmente ser colocados em um espaço de 20 milhas de distância por 20 milhas de largura”. “São variantes interessantes”, contou Puttemans. “Neste rascunho, Saint-Exupéry é muito mais detalhado. 

Ele menciona Long Island, que seria um um diferencial para leitores americanos, não para outros. No texto definitivo, ele mudou essa parte e fez algo mais universal. Mas é interessante ver o que se passou pela cabeça dele quando escreveu”. 

A outra página introduz um personagem completamente novo à história – um entusiasta de palavras cruzadas, o primeiro humano que o Pequeno Príncipe encontra ao chegar à Terra. “Onde estão os homens? Diz o pequeno príncipe a si mesmo enquanto viajava”, escreve Saint-Exupéry no rascunho. “Ele encontrou o primeiro deles em uma estrada. ‘Ah!’ disse para si mesmo, ‘Vou descobrir o que eles pensam sobre a vida neste planeta’, disse ele. ‘Ele pode ser um embaixador do espírito humano’…”. O homem diz ao Pequeno Príncipe que está muito ocupado.“’Claro que ele está muito ocupado’, disse o pequeno príncipe a si mesmo, ‘ele cuida de um planeta tão grande. Há tanto o que fazer’. E ele raramente ousou perturbá-lo. ‘Talvez eu possa ajudá-lo’, disse em voz alta, no entanto. O pequeno príncipe gostava de ser prestativo. ‘Talvez’, disse o homem […]. ‘Tenho trabalhado por três dias sem sucesso. Estou procurando uma palavra de seis palavras, começando com G, que signifique ‘gargarejar’.” 

A página, então, termina. “Não sabemos a solução. Não está na página, e é parte da beleza disso. Faz com que várias leituras sejam possíveis, porque não sabemos o que Saint-Exupéry estava pensando”, disse Puttemans ao “Guardian”. “Mas ele escreveu isso em 1941, em Nova York, quando estava bastante envolvido com a guerra. Então, acho que um dos significados para a palavra de seis letras poderia ser ‘guerre’ [guerra]. O que muda um pouco nossa interpretação do texto”. 

Normalmente, segundo Puttemans, “O Pequeno Príncipe” é visto como um texto universal, mas se a solução para a palavra cruzada for “guerra”, o livro pode ser visto sob uma perspectiva antibelicista. “Em francês, ‘gargarejar alguma coisa’ também pode significar ‘Ter orgulho de si mesmo ou de algo’. Esse orgulho pode ser comparado com o nacionalismo que, entre 1939 e 1940, deu origem aos conflitos na Europa”, explicou. “Obviamente, é apenas um palpite: o texto não nos dá uma resposta, e talvez seja melhor assim”. 

As páginas irão a leilão no dia 16 de maio, com o preço inicial de US$ 40 mil.

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