O seu livro de estreia, Cartas de amor aos mortos, mexeu tanto comigo, que resolvi abandonar o formato tradicional de resenha e lhe escrever uma carta. Sei que você está bem viva e tenho uma pontinha de esperança que você leia isto um dia... Espero também que a Seguinte, que gentilmente nos enviou um exemplar do seu livro, não se importe pela forma que escolhi para falar... Escolhi lhe escrever, porque acredito que esta é a melhor forma de organizar as ideias sobre uma história tão complexa e tão tocante.
A primeira vez que vi o seu livro foi em uma grande livraria daqui de São Paulo. Três pontos me deixaram extremamente curiosos: o projeto gráfico (que capa linda!), a sinopse que dizia sobre um trabalho pedido por uma professora e o destinatário da primeira carta: Kurt Cobain. Sou professora, então sempre me interesso por histórias que acontecem no cotidiano escolar. Quanto ao Kurt, além de sentir uma falta absurda da sinceridade que ele tinha na música, sinto falta do grunge. Este tipo de rock realmente me faz falta. Logo, decidi que Cartas de amor aos mortos entraria na minha lista de leitura.
Quando comecei a ler, achei que seria só mais um livro de adolescente, desses água com açúcar em que uma garota problemática se apaixona por um cara qualquer e, após muitos desencontros, os dois vivem felizes para sempre. Ledo engano: a cada carta, a cada linha, fui me envolvendo com a história de Laurel. É lindo a devoção que ela tem por May.
Seu livro começa com uma professora, a sra. Buster, pedindo à turma de Laurel que escrevesse uma carta para alguém que houvesse morrido. Ela sabia que Laurel havia perdido a irmã de forma trágica e que esta talvez fosse uma forma de desabafar. Incrível a sua sensibilidade para tratar sobre a morte. Genial a intertextualidade que você cria ao fazer com que Laurel escreva para diferentes personalidades. Sinceramente, dá vontade de ouvir todas as músicas do Nirvana, do Jim Morrison, da Janis Joplin e da Amy Winehouse. Dá vontade de ler todos os poemas da Elizabeth Bishop e de assistir aos filmes do Heath Ledger. Espero que os seus leitores que não os conheçam façam isso. Será um enriquecimento cultural e tanto.
A maneira delicada que você narra a busca por si mesma de Laurel é linda. Gostei muito de como você consegue abordar tantos temas considerados polêmicos dentro de uma obra só. Se pararmos para pensar, além do luto, você fala de sexualidade, de religião, de estrutura familiar, de drogas, de violência e de amizade e amor. Tudo isso sem ser chata, sem ser chlichê. A maneira tocante como você abordou cada um destes aspectos me fez desejar que cada vez mais pessoas tenham acesso ao seu livro. Você foi extremamente humana, isso é algo que anda em falta ultimamente, infelizmente.
Sobre isso de as pessoas terem acesso ao seu livro, não sei se você já parou para pensar nisso, contudo fiquei pensando o que aconteceria se a Frances Cobain lesse a sua obra. No fundo, isso que você diz sobre a visão que as pessoas têm do Kurt ser diferente da que ele tinha dele mesmo faz todo o sentido – não só para ele, como para todos nós, humanos e anônimos. Penso que o desabafo de Laurel também é um pouco meu.
Voltando a falar da narrativa, tudo o que Laurel queria era se encaixar em uma nova escola e tentar viver como uma adolescente normal. Logo de cara, o leitor consegue se identificar com este traço psicológico, por que quem nunca quis ser considerado normal?! A forma como ela faz a amizades e como ela lida com o seu grupo é que é bonita e sensível. Mesmo com todo mundo vivendo as suas lutas e loucuras, todos eles cuidam uns dos outros – às vezes até mais do que a própria família cuidaria. De qualquer forma, o que mais me encantou mesmo é a maneira como, paulatinamente, você mostra ao seu leitor a importância do diálogo. Confiar em alguém é necessário, mesmo que este alguém seja “maluquinho” como Tristan, misterioso como Sky ou focada como Kristen. É impossível viver guardando tudo para si, e como a Laurel aprende isso é marcante.
Sabe Ava, não sou uma pessoa de chorar com qualquer história que me contam. Entretanto, terminei Cartas de amor aos mortos em prantos (tanto é que nem consegui ler os agradecimentos). Definitivamente, eu não esperava que a morte de May tivesse sido pelo motivo que foi (nós sabemos qual é!) e que o final seria tão surpreendente. Você conseguiu escrever de uma forma tão clara, que as cenas ficam, uma a uma, passando na minha cabeça como se eu tivesse vivenciado aquilo tudo. Denso e incrível.
Posso dizer que as Cartas de Amor aos Mortos de Laurel levam seus leitores a ver o mundo sobre outro prisma... Ainda bem! :)
Beijos,
Fernanda
Título original: Love Letters to the Dead
Autor: Ava Dellaira
Tradução: Alyne Azuma
Páginas: 344
Editora: Seguinte
Sinopse: Prestes a começar o ensino médio, Laurel decide mudar de escola para não ter que encarar as pessoas comentando sobre a morte de sua irmã mais velha, May. A rotina no novo colégio não está fácil, e, para completar, a professora de inglês passa uma tarefa nada usual: escrever uma carta para alguém que já morreu. Laurel começa a escrever em seu caderno várias mensagens para Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Elizabeth Bishop… sem nunca entregá-las à professora.
Nessas cartas, ela analisa a história de cada uma dessas personalidades e tenta desvendar os mistérios que envolvem suas mortes. Ao mesmo tempo, conta sua própria vida, como as amizades no novo colégio e seu primeiro amor: um garoto misterioso chamado Sky.
Mas Laurel não pode escapar de seu passado. Só quando ela escrever a verdade sobre o que se passou com ela e com a irmã é que poderá aceitar o que aconteceu e perdoar May e a si mesma. E só quando enxergar a irmã como realmente era - encantadora e incrível, mas imperfeita como qualquer um - é que poderá seguir em frente e descobrir seu próprio caminho.
Trecho disponibilizado pela editora. | Livro no skoob.
Mensagem da autora para os leitores brasileiros:
Trecho disponibilizado pela editora. | Livro no skoob.
Mensagem da autora para os leitores brasileiros:
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Sobre a Autora:
Fernanda Rodrigues é bacharela em Letras (Português e Inglês) e licenciada no curso de Formação de Professores da USJT. Além de ser professora de Língua Inglesa, é louca por assuntos que envolvam a Literatura, as demais artes e o processo de ensino e aprendizagem. Escreve no Algumas Observações e no Teoria, Prática e Aprendizado. |
A cada resenha, fico com mais vontade de ler esse livro... Adorei o formato de carta!
ResponderExcluirFico feliz que você tenha gostado do formato da resenha! :D
ExcluirLeia o livro porque ele é muito bom! :D
Beijos!