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Quando me deparei com Poemas Escolhidos de Gregório de Matos, pensei: “Uau! Quanta coragem!”, isso porque José Miguel Wisnik, responsável pela seleção e prefácio do livro, teve em suas mãos um desafio que não é seria vencido por qual quer um. Falando assim pode parecer um exagero, mas não o é. Gregório de Matos é considerado um dos maiores poetas Barroco das Américas. Além disso, nem todos os poemas atribuídos ao Boca do Inferno foram realmente escritos por ele. Logo, a proeza de Wisnik é plenamente justificável.
O “Prefácio” dividi-se em três partes. Na primeira delas, “Esboço biográfico”, o leitor passa a conhecer quem foi Gregório de Matos e Guerra, nascido em Salvador (1633 ou 36) e morto no Recife (1696), arcebispo, marido, advogado – doutor in utroque jure*, pela Universidade de Coimbra -, poeta na Bahia colonial e dono de uma biografia cheia de aventuras, amigos e inimigos. A segunda, por sua vez, é um “Estudo Crítico” que apresenta as características do período vivido pelo poeta e como elas influenciaram em sua escrita: o embate entre a mentalidade jesuítica e a Contrarreforma, somadas à sua “consciência dividida entre a moral pública, ascética, e a prática sensual, privada”. A seguir temos, então, explicações sobre a poesia satírica – que registrou e criticou as transformações socioeconômicas vividas no política colonial –; sobre a poesia lírica-amorosa e seus confrontos entre asceticismo e sensualidade, corpo e alma – levando muitas vezes a oximoros preciosos – e sobre a poesia religiosa, em que “a dualidade matéria / espírito projeta-se na dualidade culpa / perdão”. Por fim, mas não menos importante, José Miguel Wisnik explica como foi o processo de seleção dos poemas e como a obra está organizada.
Findada a leitura do “Prefácio”, o leitor encontra uma lista de uma pequena “Bibliografia”, também dividida em três partes: “Do autor”, “Antologias anotadas”, “Sobre o autor”. Os livros ali mencionados podem servir para quem, após a leitura, quiser aprofundar seus conhecimentos acerca de Gregório de Matos. E, em continuidade, temos os poemas organizados em:
• Poesia de Circunstância (I - satírica e II – encomiástica)
• Poesia Amorosa (I – lírica e II – erótico-irônica)
• Religiosa
O que dizer deles?! A força sonora (rimas, aliterações, assonâncias**) embala o leitor, tornando a leitura prazerosa. Os jogos de ideias, a ironia e zombaria das sátiras nos fazem gargalhar e ao mesmo tempo refletir (muitas das mazelas que li sendo alvo de críticas do Boca do Inferno nos tempos coloniais me fizeram recordar o que ainda hoje é vivido no Brasil). As intertextualidades com as figuras mitológicas provocam o leitor a querer saber mais sobre Baco, Apolo, Cupido, Janos, Saturno e tantos outros personagens clássicos. O vocabulário surpreende, já que muitos dos termos – alguns de baixo calão – ainda se mantém atual. Em suma, o livro é um deleite para apaixonados por poesia e/ou pelo Barroco. Ademais, as notas de rodapé ajudam o leitor a esclarecer o significado dos vocabulários em desuso e a entender quem são as pessoas e personagens citados nos poemas – fato que ajuda na interpretação do que é lido.
Livro: Poemas Escolhidos de Gregório de Matos
Autor: Gregório de Matos
Seleção e prefácio: José Miguel Wisnik
Ano: 2010
Páginas: 360
Coleção: Listrada
Editora: Companhia das Letras.
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*in utroque jure = em ambos os direitos. Ou seja, no civil e no canônico. (Definição do site Revisões e Revisões)
**Aliterações = repetição ritmada de um som de consoantes idênticas ou semelhantes em um verso. || Assonância = repetição ritmada de vogais idênticas ou semelhantes em um verso.
Sobre a Autora:
Fernanda Rodrigues é bacharela em Letras (Português e Inglês) e estudante do curso de Formação de Professores na USJT. Além de ser professora de Língua Inglesa, é louca por assuntos que envolvam a Literatura, as demais artes e o processo de ensino e aprendizagem. Escreve no Algumas Observações, no Escritos Humanos, no Teoria, Prática e Aprendizado e no Barbie Nerd. |
Nossa. Adorei essa sua resenha crítica sobre o livro. Aliás, pra mim, o Gregório de Matos é um dos maiores poetas que produziu no Brasil, até porque não é só o vocabulário que permanece até hoje, muito da estrutura poética dos tempos de hoje é também repetida e copiada. Se pensarmos bem na estética desse poeta até o concretismo já fora previsto pelo poeta. Em certos poemas ele tem uma preocupação espacial para entender o jogo de sentidos utilizados no texto. Em suma, ler gregório de matos sempre é bom. Principalmente a satírica, em que ele critica a tudo e todos.
ResponderExcluirNagai, Gregório de Matos é realmente ótimo! Eu sou super fã dele. A poética dele é fruto de muitas pesquisas - eu mesma já fiz um monte delas - e, sei que este post poderia ser imenso. A cada leitura, descobrimos uma 'sacada' nova dele!
ExcluirÉ por isso que gosto tanto!
Um beijo,
Fê
Minha amiga amada, se lhe for contribuir, tenho as resenhas dos 5 volumes da série Pearcy Jackson e os Olimpianos (Atividade Complementar da facul)... não sei se lhe é útil.
ResponderExcluirbeijos
Oi amada!
ExcluirBom ter você por aqui!
Saudades suas infinitas!
Obrigada pelo oferecimento da resenha. Vou ver com as meninas que tbm escrevem aqui, aí te lo digo! ;)
Beijos,
Fê